Historicidade do Rito Adonhiramita – 4
A EVOLUÇÃO DO RITO ADONHIRAMITA
O primeiro ritual Adonhiramita utilizado no Brasil era uma tradução da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita com poucos ajustes, ou seja, era um catecismo, a reprodução de um diálogo travado entre o Ven. Mestr. e o Apr., Comp., ou Mestr., que não continha descrição da prática ritualística.
Esse formato permaneceu vigente até 1896, quando surgiram as primeiras descrições de etapas ritualísticas, mesmo assim, referentes apenas às Sessões Magnas de Iniciação, num padrão que vigorou até a edição do ritual de 1963, quando as sessões ordinárias passaram a constar dos rituais.
Mas foi apenas no ritual de 1969 que as práticas ritualísticas se tornaram mais claras e evidentes. Dessa forma, não sabemos como era praticada a ritualística antes dessa época, pois perdemos o testemunho oral, que seria esclarecedor, notadamente porque, em alguns casos, há menção nos rituais mais antigos de executar a etapa “de praxe”, ou seja, os maçons sabiam executá-la, apesar de não estar descrita. O que podemos evidenciar é apenas o ritual em que a descrição da etapa foi inserida pela primeira vez.
Um fator relevante acerca dos rituais Adonhiramitas é que, desde o início do século XIX, o Rito era praticado exclusivamente no Brasil. Dessa forma, pela ausência de parâmetros e referências internacionais, os ritualistas brasileiros gozaram de total liberdade para modificar, adaptar e aperfeiçoar os rituais.
Como afirmei, não sabemos como era executada a ritualística do Rito Adonhiramita antes da década de 1960, não há registro documental, e perdemos o testemunho presencial dos maçons dos séculos XVIII, XIX e da primeira metade do século XX. Por essa razão, tenho sempre muito cuidado em tratar essa questão.
Por mais convencidos que estejamos, estaremos sempre especulando, deduzindo através da comparação com outros Ritos e da interpretação dos rituais. Mas há uma narrativa na Maçonaria brasileira a respeito das alterações ritualísticas do Rito Adonhiramita que precisa ser abandonada, não pela minha opinião, mas pelas provas materiais e concretas de que dispomos.
Tem sido repetido à exaustão que a ritualística foi modificada em 1973. Isso é um engano. O que houve em 1973 foi a alteração do número de Graus. Outro fator é que a ritualística não é estabelecida pelas Potências Filosóficas, embora essas evidentemente possam colaborar, mas os fundamentos são estabelecidos no Grau 1. No caso do Rito Adonhiramita, esse detalhamento ocorreu 10 anos antes, em 1963.
Em 1968, o Grande Oriente do Brasil nomeou uma comissão de MMs encarregada de promover atualizações nos rituais Adonhiramitas. Essa comissão foi presidida por Aylton de Menezes, coincidentemente o responsável pela formalização da alteração de treze para trinta e três Graus, o que pode ter ocasionado esse entendimento equivocado. A descrição das etapas que vem sendo objeto de contestação ocorreu no ritual de 1969.
As Influências da Teosofia no Rito Adonhiramita
Muitos autores afirmam que o Rito Adonhiramita sofreu influências da Teosofia na década de 1960. Não é bem assim. A doutrina Adonhiramita sempre foi muito próxima dos conceitos gnósticos e aristotélicos, o que gerou a confusão, pois a própria Teosofia sofreu influências dessas correntes de pensamento.
A quase totalidade dos autores e pesquisadores se debruça exclusivamente sobre a análise da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita para escrever sobre o Rito, desprezando outra obra assinada por Saint-Victor, A Origem da Maçonaria Adonhiramita, publicada em 1787 e ainda inédita em português. Nesta obra, Saint-Victor associa as origens do Rito Adonhiramita aos sacerdotes do antigo Egito, druidas, magos persas, mitologia grega, filósofos e historiadores da antiguidade, o que demonstra que, desde sua origem, o Rito Adonhiramita possui essa inclinação para os antigos mistérios e o gnosticismo.
O Impacto das Mudanças de 1973
Em 1973, o Rito Adonhiramita sofreu sua alteração mais drástica. Nascido com treze Graus, passou a trinta e três, em formato semelhante ao praticado pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, mantendo a mesma nomenclatura e promovendo ajustes na ritualística e ordenação de alguns Graus.
A decisão foi de gestão, liderada por Josué Mendes e Aylton de Menezes. Essa alteração visava tornar o Rito Adonhiramita mais atrativo aos maçons brasileiros. Independentemente da decisão ser questionável sob o ponto de vista das origens do Rito, não há como negar que a prática de trinta e três Graus dá acesso a maior conhecimento.
As Oficinas Filosóficas
Em 1822, não havia ainda a separação de administração entre os Graus Simbólicos e Filosóficos, e não houve tempo para muita coisa, pois o Grande Oriente Brasílico esteve ativo apenas por quatro meses. Após seu reerguimento em 1831, além dos Ritos Adonhiramita e Moderno, já era praticado no Brasil o Rito Escocês Antigo e Aceito.
Em 1839, o Grande Oriente do Brasil criou o Colégio dos Ritos, que em 1851 se tornaria o Colégio dos Ritos Azuis. O primeiro dirigente Adonhiramita deste Colégio foi Manoel Joaquim de Menezes, e o título era Grande Oficial de Honra.
O Retorno à Europa
Em 2010, o Rito Adonhiramita deixou de ser praticado exclusivamente no Brasil, e retornou à Europa através de Portugal, onde é praticado por Lojas da Grande Loja Legal e Grande Loja Regular de Portugal nos Graus Simbólicos. Os Graus Filosóficos são ministrados pelo Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal, que adotou a hierarquia de trinta e três Graus.
Bibliografia
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- CASTELLANI, José, e CARVALHO, William de Almeida, História do Grande Oriente do Brasil: A Maçonaria na História do Brasil, Editora Madras, São Paulo, 2009.
- COSTA, Orlando Soares da, Metástase Maçônica, Editora Europa, Rio de Janeiro, 1999.
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- SAINT-VICTOR, Guillemain, Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Filadélfia, EUA, dois volumes, edições de 1782 a 1787.
- SAINT-V