Franco-Maçonaria e o Poder Oculto: Simbolismo Pagão e Influências no Templo de Salomão
Essa parte do documento explora como o Templo de Salomão, frequentemente associado ao simbolismo maçônico, incorporava influências religiosas pagãs, especialmente ligadas à adoração da Deusa. A narrativa sugere que Salomão, embora um devoto de Javé, mantinha vínculos com Tiro, um centro de adoração pagã, e o mestre construtor Hiram Abiff pode ter introduzido elementos pagãos na arquitetura do templo.
A presença das colunas Jaquin e Boaz na entrada do templo, por exemplo, é comparada aos obeliscos egípcios e a pilares fálicos de ritos de fertilidade. Estes pilares simbolizam, segundo a Cabala e a Maçonaria, as energias masculina e feminina fundamentais para a criação. O Santo dos Santos do templo também é descrito como um símbolo do útero da Deusa, onde a Arca da Aliança era guardada, protegida por querubins representando a dualidade divina. Assim, o Templo de Salomão é retratado como uma estrutura de sincretismo entre as tradições hebraica e pagã, com forte simbolismo místico.
Franco-Maçonaria e o Poder Oculto
Examinando-se essa lenda à luz da situação religiosa no reinado de Salomão, alguns fatos interessantes vêm à tona, descortinando-nos o simbolismo pagão oculto da Maçonaria. Primeiro, na época em que Salomão ocupava o trono de Israel, Tiro era conhecida como um centro da adoração da Deusa.
Ainda que seja considerado um importante devoto de Javé (ou Jeová), Salomão mantinha extensa correspondência com o rei pagão de Tiro, tendo-lhe solicitado que enviasse o seu mestre construtor, que devia estar ocupado na construção de templos dedicados à veneração da Grande Deusa, e para ajudá-lo a projetar e construir o seu templo a Javé.
Uma leitura cuidadosa do Antigo Testamento revela que, quando os hebreus se reinstalaram em Canaã, depois de escaparem da escravidão no Egito, a adoração de seu deus tribal, Javé, sofreu forte resistência pelos habitantes nativos que reverenciavam a deusa da fertilidade Asserá ou Astarte e o seu consorte masculino. A situação, quando o culto de Jeová foi introduzido em Canaã, pode ser comparada ao início do período medieval na Europa, quando os missionários romanos tentaram converter as tribos pagãs, e a África do século XIX, quando os colonizadores brancos forçaram os nativos a adotar o cristianismo.
Além disso, as discrepâncias no mito hebreu da criação, registrado no Gênesis, mostram claramente que o judaísmo primitivo foi fortemente influenciado pelas crenças pagãs das tribos nômades ancestrais dos israelitas.
Ao estabelecerem a religião de Javé, os patriarcas do Antigo Testamento se valeram da rica estrutura da mitologia existente nos países vizinhos, incluindo Suméria e Babilônia. Em particular, os mitos do Jardim do Éden e do Dilúvio são identificáveis como contribuições externas enxertadas no sistema de crenças judaico.
O javeísmo somente se tornou a religião dominante do Israel antigo através das campanhas militantes de uma pequena elite de sacerdotes patriarcais, na maior parte do tempo, mas nem sempre, apoiada pela monarquia e pela classe dirigente. O povo comum resistiu-lhe bravamente, apoiado pelos membros heréticos das classes dominantes. O conflito acarretado ainda pode ser detectado no judaísmo ortodoxo, onde o Supremo Criador é representado como nem masculino nem feminino. Um filósofo judeu medieval afirmou que “Deus não é um corpo e tampouco pode receber atributos corpóreos…, e Ele não tem semelhança com nada”. A despeito dessa tentativa de apresentar a Divindade como uma entidade abstrata, a maioria dos rabinos judeus encaravam Javé como de natureza masculina. O seu título alternativo de Adonai, que se traduz como “Senhor”, confirma essa crença.
O antigo conceito de uma deidade andrógina somente sobreviveu nos ensinamentos secretos do sistema místico conhecido como Cabala, a doutrina esotérica da religião judaica, na imagem feminina da Shekiná ou Noiva de Deus. Nas sinagogas judaicas, a Shekiná é acolhida no pôr-do-sol de sexta-feira, nas preces celebrantes do início do Sabá. Nessas preces, a Shekiná é acolhida como a Noiva de Deus e, segundo os ensinamentos cabalistas, a criação só pode se manifestar através dela. Essa ideia é reforçada pela crença popular de que a Shekiná se materializa, de forma invisível, sobre o leito da noite de núpcias, sugerindo resquícios dos antigos ritos da fertilidade realizados em honra da Deusa.
Antigas memórias da adoração da deusa também sobrevivem no mito judaico da demônia Lilith, inspiradora de desejos sexuais masculinos através de sonhos eróticos. Segundo os ensinamentos cabalísticos, Lilith foi a primeira esposa de Adão, antes de Eva, ensinando-lhe as artes do encantamento mágico. De acordo com a sabedoria ocultista, de sua união ilícita foi gerado o reino elemental dos elfos, das fadas e dos gnomos. Lilith não era, originalmente, uma figura demoníaca, podendo ser identificada com a deusa sumeriana intitulada Senhora das Bestas, representada sob a forma de uma coruja. Lilith simboliza o aspecto escuro da Grande Deusa da antiga religião pagã, em seu aspecto de mulher fatal ou sedutora.
Esse aspecto da feminilidade sempre rejeitado pelas culturas patriarcais, cujo puritanismo sexual o transformou em um símbolo demoníaco, pela incapacidade de lidar com as poderosas energias eróticas a ele associadas.
Inicialmente, a adoração das deidades da fertilidade de Canaã era parte integrante da religião judaica. A deusa Asserá, o seu consorte El e o seu filho Baal, significando o Senhor, eram bastante venerados. Efígies da Deusa foram erigidas por todo o Israel, conforme descrito nos livros do Antigo Testamento, Reis, Crônicas, Juízes, Deuteronômio, Êxodo e Miquéias. Conta que Gideão destruiu um altar de Baal por ordem de um anjo (Juízes, 6:25-31) e existem referências à adoração do deus e da deusa da fertilidade em altares erguidos no templo de Jerusalém.
Como Salomão figura nessa tradição de adoração da Deusa? Durante a Idade Média, o rei hebreu adquiriu uma reputação de Mestre em Magia, capaz de evocar os espíritos elementais, e diversos manuais de magia exibiram o seu nome no título, por exemplo: As Clavículas de Salomão. De um modo geral, ele era visto como um poderoso mago, curandeiro e exorcista e, atualmente, alguns cristãos de fé renovada o denunciam como um adorador do diabo que afastou os israelitas do verdadeiro Deus. No apócrifo Livro da Sabedoria, escrito no século I d.C., cita-se Salomão dizendo: “Deus me deu o verdadeiro conhecimento das coisas como elas são; uma compreensão da estrutura do mundo e do funcionamento dos elementos do início e final das eras e o que vem entre elas… os ciclos do ano e as constelações… os pensamentos dos homens… o poder dos espíritos… as virtudes das raízes… tudo, secreto ou manifesto, eu aprendi” (Sabedoria, 7:17-21).
Além de seus atributos mágicos e poderes ocultos, Salomão é visto por alguns estudiosos como um adorador secreto da Deusa. A conversão de Salomão ao paganismo e o seu culto a deuses estranhos são atribuídos a seus casamentos com princesas estrangeiras, que introduziram os seus costumes religiosos na corte (I Reis 11:1-8). Especula-se, ainda, que a legendária Rainha de Sabá apresentou ao rei herege as doutrinas ocultistas de sua terra (situada na África ou na Arábia). Ao visitar Salomão, não só trouxe camelos carregados de especiarias, ouro e pedras preciosas, mas incluiu em seu séquito sacerdotes que iniciaram o monarca judeu nos Mistérios da antiga religião pagã.
O Antigo Testamento narra que Salomão “sacrificava e queimava incenso nos lugares altos” (I Reis 3:3), que eram os locais dos santuários dedicados à adoração da Grande Deusa. Os indícios existentes mostram que, durante 200 dos 370 anos de história do templo de Jerusalém original, ele serviu, total ou parcialmente, para a veneração da Deusa. Quando um dos profetas de Javé denunciou a obstinação de Salomão em favor de um jovem chamado Jeroboão, que se tornou o novo rei (I Reis 11:29-40), a adoração dos deuses pagãos reduziu-se por um breve tempo. Em II Reis 23:4-7, consta que o sumo sacerdote Helcias destruiu os santuários da deusa Asserá, que Salomão erigira em todo o Israel.
Desafortunadamente para os seguidores de Javé, a escolha de Jeroboão como novo líder religioso de Israel foi um erro de cálculo. O jovem logo retornou ao culto do Deus-Touro pagão (I Reis 12:33), desgraçando-se. O culto da Deusa reforçou-se ainda mais com a chegada, em Israel, da princesa Jezebel, a “grande meretriz” original, filha do rei de Sidon e sacerdotisa da fé pagã. A sua imagem de promíscua desavergonhada advém, evidentemente, da sexualidade explícita dos ritos realizados por Jezebel para a Deusa, que horrorizaram os sacerdotes puritanos de Javé.
Sob a influência de Jezebel, o seu marido, o rei de Israel Acab, construiu um altar para Baal e um bosque sagrado para a Deusa (I Reis 16:30-33). Consta que 850 sacerdotes de Baal e Asserá participaram de um pródigo banquete organizado pela nova rainha. Ela adorava Astarte e, nas ruas de Jerusalém, fogos sagrados eram acesos, bolos de mel condimentados eram assados, libações de vinho eram deitadas ao solo e incenso era queimado, como uma oferenda sacrificial à deusa da fertilidade. Jezebel acabou destronada e morta pelos adoradores de Javé, devido aos seus excessos eróticos. No entanto, o culto da Deusa sobreviveu por muitos anos e, quando iniciou a sua cruzada para restaurar o javeísmo, Josias teve, primeiro, de destruir os altares e santuários aos deuses pagãos, erigidos pelo povo comum (II Reis 23:4-15).
O adorador da deusa, Salomão, havia convidado de Tiro, um centro da adoração pagã, o mestre construtor Hiram Abiff, para ser o principal arquiteto do templo de Jerusalém. Hiram foi assassinado ao término do trabalho, em circunstâncias já descritas, que se afiguram uma morte ritual ou um sacrifício humano.
Como Hiram fora o projetista de templos pagãos, parece provável que tenha incorporado elementos do paganismo na arquitetura do templo de Salomão.
De fato, o templo foi construído em um estilo pagão, com um vestíbulo, uma nave e um santuário interno, cuja entrada era guardada por duas colunas.
A entrada principal do templo era de grande importância simbólica, por ser flanqueada por dois pilares, historicamente conhecidos como Jaquin e Boaz. Eles formavam a estrutura do pátio externo ou pórtico do templo, onde, conforme a lenda, os pedreiros construtores do edifício se reuniam. Tem sido afirmado que esses dois pilares foram posicionados de modo a imitar os obeliscos construídos nas entradas dos templos egípcios. Os mais famosos dentre eles foram erguidos por ordens do faraó Tutmés III, em Heliópolis ou Cidade do Sol, no século XV a.C. Esses pilares, por alguma razão desconhecida chamados de Agulhas de Cleópatra, podem ser atualmente encontrados às margens do Tâmisa, em Londres, e no Central Park, em Nova York. Os símbolos na base do obelisco americano foram identificados como sinais maçônicos. Tutmés é considerado por alguns ocultistas modernos o lendário fundador da Ordem Rosa-Cruz.
Os dois pilares frontais do templo de Salomão também guardam semelhanças com os símbolos da fertilidade cananeus tradicionais. Os templos dedicados à Deusa em Tiro teriam, ao que se diz, pilares de pedra de formato fálico em suas entradas. Esses pilares eram o foco dos ritos de fertilidade realizados em honra de Astarte em suas festas especiais. Esses pilares também têm sido associados aos monólitos usados por Lamec e seus filhos para preservar-nos símbolos hieroglíficos gravados nas superfícies o seu antigo conhecimento.
Os cabalistas os têm identificado como símbolos dos princípios masculino e feminino, pelos quais o Universo passou a se manifestar, conforme exprime o símbolo da Árvore da Vida. Além disso, ocultistas e maçons concordam em que esses dois pilares representam as energias masculina e feminina, que são a base da criação. A sua posição, em ambos os lados da entrada do templo dedicado à deusa, indica que essa passagem pode representar os lábios femininos. Na crença religiosa antiga, os templos da Deusa, quer de Astarte, Ishtar ou Ísis, eram projetados como símbolos de seu corpo, o que se refletia em sua arquitetura sagrada.
A parte mais sagrada do templo de Salomão era o Santuário Interno ou Sagrado dos Sagrados, que simbolizava o útero da Deusa e era o repositório da Arca da Aliança, que continha a legislação sagrada dos hebreus concedida por Javé a Moisés no monte Sinai. Somente os sumos sacerdotes de Javé podiam penetrar no santuário interno, onde ficava guardada a Arca da Aliança, de ouro e acácia. A tampa da arca era uma placa de ouro, sobre a qual ficavam ajoelhadas efígies dos guardiões místicos da Aliança, os Querubins. Eles se fitavam mutuamente e tinham grandes asas cobrindo a Arca. Tratava-se do trono de Deus, onde Javé supostamente descia para se comunicar com o Seu sumo sacerdote.
De acordo com o professor Raphael Ktav, em seu livro Os Deuses Hebreus, os Querubins que guardavam a Arca da Aliança no templo tinham a forma de figuras femininas desnudas e aladas. A palavra querubim significa “mensageiro” e, na mitologia hebraica, refere-se a um intermediário, de origem divina, entre a humanidade e Deus. Os dois querubins do Sagrado dos Sagrados foram descritos, pelo místico judeu Filo, escrevendo no século I d.C., como símbolos da natureza dualista de Deus e dos princípios masculino e feminino da criação.
Referências
- Antigo Testamento – Principal texto de referência que detalha as interações de Salomão com o rei de Tiro e a construção do Templo de Jerusalém, incluindo as colunas de Jaquin e Boaz. Fontes específicas: I Reis 3:3; 11:1-8; 11:29-40; 12:33; II Reis 23:4-15.
- Sabedoria de Salomão – Texto apócrifo onde Salomão discute o conhecimento e o funcionamento dos elementos da natureza. Referência específica: Sabedoria, 7:17-21.
- Ktav, Raphael. Os Deuses Hebreus – Uma obra que explora as divindades e símbolos presentes na tradição religiosa hebraica, incluindo os querubins da Arca da Aliança.
- A Cabala Judaica – Sistema místico da tradição judaica que aborda a imagem da Shekiná e a simbologia de uma divindade andrógina. Esta obra frequentemente estuda a Árvore da Vida e conceitos de dualidade entre os princípios masculino e feminino.
- Livro das Clavículas de Salomão – Uma coleção medieval de textos sobre magia e ocultismo, atribuído a Salomão, que descreve práticas de conjuração de espíritos e manipulação de forças ocultas.
- Filo de Alexandria – Filósofo judeu que discutiu o simbolismo dos querubins e a natureza dualista de Deus, representando as forças masculinas e femininas da criação.
- Tradições sobre Lilith – Ensinamentos cabalísticos que descrevem Lilith como a primeira esposa de Adão e exploram seu simbolismo como uma figura demoníaca e feminina poderosa.
- Cultura Suméria e Babilônica – Culturas do Antigo Oriente Médio que influenciaram o desenvolvimento do judaísmo primitivo, especialmente nos mitos do Jardim do Éden e do Dilúvio.
Referências em formato bibliográfico
A Bíblia Sagrada. Tradução: João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, diversas edições.
Ktav, Raphael. Os Deuses Hebreus. [Editora desconhecida], data de publicação desconhecida.
O Livro da Sabedoria de Salomão. Apócrifo. Edição consultada: [especificar edição].
Filo de Alexandria. Escritos e Filosofia Judaica. Publicação original em grego, tradução e edição dependem da edição consultada.
Textos cabalísticos diversos, incluindo a Árvore da Vida e a imagem da Shekiná, em referência a obras como O Zohar, disponível em edições acadêmicas especializadas em Cabala.