Conhecendo o Rito Adonhiramita: Uma Jornada Pela Maçonaria Tradicional


Embora todos os ritos devessem ter princípios e características próprias, nem todos os têm. A Maçonaria Adonhiramita possui princípios exclusivamente seus. Para começar, não se chama de rito, mas de Maçonaria. Por quê? É o que objetivamos explicar aqui.

Originalmente, na época da Maçonaria Operativa, havia apenas dois graus. Quando se introduziu o terceiro grau, passou-se a aplicar a Lenda de Osíris. Posteriormente, mudou-se para a construção do Templo de Salomão, sendo o seu arquiteto o Mestre Adonhiram.

André-Michel de Ramsay, que se iniciou na Hornan Lodge, provavelmente em 17 de março de 1730, com sua ideologia do início do século XVIII, deu origem ao “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”, em Paris, que praticava apenas os graus simbólicos, sendo o Mestre do Terceiro Grau, Adonhiram.

Mesmo após o Rito de Kilwinning dar origem ao Rito Escocês, Adonhiram permaneceu por muito tempo como seu Mestre, como se vê no ritual do Oriente de Marselha, de 1812, que ainda se mantinha em sete graus, republicado em “fac-símile”, por Les Rouyat Editeur: “Ce tombeau représente celui de notre Maitre Adonhiram… “.

Na época de Ramsay, o Barão Louis Theodore Tschoudy, que estava ligado à “L’Ordre de L’Étoile Flamboyante”, uma das Ordens sucessoras do Templarismo – razão pela qual escreveu o livro “L’Étoile Flamboyante”, símbolo prevalecente na Maçonaria Adonhiramita – passou a se vincular ao “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”. A ele também se filiou Louis Guillemain de Saint Victor.

Em 1738, André-Michel de Ramsay pronunciou na Grande Loja Provincial da Inglaterra, em Paris, o discurso que o tornou famoso, por apresentar uma visão universalista que pregava uma instituição ultranacional. Partindo de objetivos teocráticos, questionou os valores vigentes no obscurantismo medieval, buscando um salto qualitativo de vida e de consciência para a humanidade. Após o seu discurso, deu-se início ao surgimento dos altos graus, o que provocou toda sorte de críticas e inimizades.

Em 1740, Louis Travenol já publicava, sob o pseudônimo de Léonard Gabanon, o seu “Catéchisme des Franc-Maçons, dédié au beau sexe, précédé d’une Histoire d’Adoran”, onde já se trocava o nome do Mestre Adonhiram, sobre o qual o grau de mestre já trabalhava, para Hiram. “Le Secret des Franc Maçons”, escrito em 1742 pelo abade Gabriel-Louis Calabre Perau, prior da Universidade de Sorbonne, não faz qualquer referência à existência dos altos graus. Há quem afirme que o abade Perau era Larudan. Outros dizem que Larudan era M. Jacques Brengues, um pseudônimo do abade Charles-Henri Arnault de Pomponne. O “Catéchisme des Francs Maçons” de Louis Travenol também se refere aos altos graus.

Em 1744, um livro denominado “O Perfeito Maçom” criticava os altos graus: “Estes que se fazem chamar por Mestres Escoceses, pretendem constituir um quarto grau. Trata-se de uma maçonaria diferente da outra em muitos pontos, buscando implantar-se na França… “. Em 1745, o livro editado em Amsterdam sob o título “L’ordre des Franc-Maçons trahi et les Secret des Mopses Revélé”, apresenta a Lenda de Hiram como é hoje conhecida, e deu origem ao Rito de Heredom ou de Perfeição, que ficou conhecido como Rito Escocês Primitivo, com vinte e cinco graus.

Em 1758, como decorrência direta da reforma do Rito de Heredom e a adoção de Hiram como arquiteto, contrariamente à tradição Francomaçônica e à história bíblica, nasceu a Maçonaria Adonhiramita.

O Barão de Tschoudy, com a experiência adquirida no “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”, cujos membros intitulavam-se Soberanos Príncipes Maçons e que cuidavam dos Altos Graus Escoceses, e para o qual escrevera Rituais de Iniciação e Catecismos de Instruções diversos, acompanhando um grupo de irmãos liderados por Pirlet, discordou da reforma e da mudança de arquiteto e, nesse mesmo ano, desvinculou-se dela.

Em 1762, fundou o “Conselho dos Cavaleiros do Oriente” e se preparou para empreender sua maior obra, a criação da “Maçonaria Adonhiramita”, de forma a eliminar toda e qualquer inserção que fugisse à tradição histórica e doutrinária da maçonaria Escocesa, e forneceu a Louis Guillemain de Saint Victor material para a preparação do “Recueil Précieux de La Maçonnerie Adonhiramite”, em doze graus. O décimo terceiro, dito originar-se de uma homenagem de Frederico II aos Maçons Adonhiramitas que trabalharam no Templo de Salomão, só surgiu na edição de 1787.

Vemos que a Maçonaria dividiu-se em dois grandes grupos. Os mantenedores de Adonhiram como Arquiteto do Templo e, por conseguinte, seguidores da Tradição Maçônica e Bíblica, e os seguidores de uma Lenda criada por um autor desconhecido que se apresenta com diversos nomes, sendo mais repetidamente informado como um abade, não um Maçom.

A Maçonaria Adonhiramita tem uma única liturgia e ritualística até os dias de hoje, enquanto que a Maçonaria Hiramita apresenta-se com vários Ritos e Liturgias.

Contudo, a Maçonaria Adonhiramita respeita e aplaude todos os Ritos, reconhecendo cada um como seguidor de uma corrente da Tradição Maçônica, no fluxo e refluxo dos pensamentos e da consciência da humanidade, na busca dos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Autor: Ir.’. José Gonçalves da Silva
(Grande Patriarca Regente da Maçonaria Adonhiramita)


“José Gonçalves da Silva, o Irmão Miguel Lemos, foi um ícone do Rito Adonhiramita. Foi Grande Patriarca Regente do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita, fundador do SCAB, foi Secretário Adjunto do Rito Adonhiramita no Poder Central. Era natural de Nazareth na Bahia, terra do Bráulio Renato. Nos anos 1970 viajou pelo Brasil inteiro fundando várias Lojas Adonhiramitas. Uma verdadeira lenda. Faleceu há uns quatro anos. Tive a felicidade de herdar parte do acervo dele, que ainda estou estudando. Conheci pessoalmente era uma excelente pessoa” SÉRGIO EMILIÃO

Rafael Gramelich
Rafael Gramelich
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