As Origens das Sociedades Secretas: Maçonaria e Influências Antigas

O documento “As Origens das Ordens Secretas” explora o surgimento e a evolução das sociedades secretas, com foco especial na Maçonaria e na Ordem Rosa-Cruz. Essas sociedades surgiram com base em crenças esotéricas e místicas de antigas civilizações, como o Egito, Grécia e Roma, influenciadas pela tradição ocultista. Durante a Idade Média, a perseguição às crenças alternativas levou esses grupos a se ocultarem, preservando suas práticas e ensinamentos. A Maçonaria, em particular, é descrita como uma herdeira de tradições pagãs, incluindo o simbolismo dos Mistérios Antigos, mantido pelas guildas de pedreiros. O documento também discute o impacto das sociedades secretas na política e religião, a controvérsia com o cristianismo e a lenda de Hiram Abiff, figura central nos rituais maçônicos.


Para que possamos compreender as origens das sociedades secretas, convém examinarmos as suas raízes antigas, que podem ser localizadas no antigo Egito e nas civilizações clássicas de Roma e Grécia, devido à possibilidade deixada por alguns iniciados em documentos. Durante a Idade Média, surgiram diversas sociedades secretas baseadas nas doutrinas ocultistas que afirmavam possuir antecedentes remontando quase ao início da história. As ideias místicas que elas possuíam tinham a sua origem nas crenças religiosas mais antigas conhecidas pela humanidade. Essas crenças pagãs sobrevivem à formação das grandes religiões mundiais, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, adotando a sua forma externa ou operando no seu interior como uma tradição herética, secreta e esotérica.

Com a perseguição às crenças espirituais alternativas na Europa cristã medieval, os guardiões dessa sabedoria antiga tiveram de se esconder, formando sociedades secretas para preservarem os seus ideais pagãos. As duas grandes sociedades secretas formadas nesse período, que só se revelariam publicamente nos séculos XVI e XVII, foram a Maçonaria e a Ordem Rosa-Cruz. Enquanto a Ordem Rosa-Cruz continua a ser uma sociedade secreta, objeto de pouquíssima publicidade nos tempos modernos, uma considerável atenção pública tem se voltado para a franco-maçonaria recentemente. Essa sociedade tem sido apontada como uma influência potencialmente corrompedora, pois seus membros abrangem homens de negócios, juízes estaduais e federais, e delegados, cujos juramentos e atividades maçônicas são encarados como a camuflagem ideal para o nepotismo. Aos olhos do mundo externo, a Maçonaria aparece como um clube de profissionais superiores, que querem progredir em suas carreiras pela adesão a um grupo social de elite. Supõe-se que os maçons favoreçam-se mutuamente nos negócios e na concessão de empregos, enquanto a proeminência das autoridades judiciárias nas lojas maçônicas levanta suspeitas de que o curso da justiça pode ser pervertido por homens ricos reunidos em suas sombrias salas.

Os maçons têm respondido a essas acusações negando que os membros de suas lojas gozem de qualquer vantagem especial nos mundos profissionais e dos negócios. Eles vêm tentando apresentar, para o mundo externo, uma imagem respeitável, argumentando que a sua confraria não é uma sociedade secreta, mas uma sociedade com segredos. Contudo, não obstante esse exercício de relações públicas, a imagem popular da franco-maçonaria é de um grupo de homens de negócios de meia-idade que se reúnem uma vez ao mês, vestem trajes extravagantes e realizam rituais escolares misteriosos. Em muitos casos, as atividades da loja maçônica moderna talvez sejam exatamente essa pantomima excêntrica; porém, se a maçonaria é tão ridícula, por que, no correr dos séculos, tem ela atraído algumas das mentes mais brilhantes: destacados cientistas, proeminentes políticos, escritores, intelectuais, artistas, financistas e até a realeza? A resposta deve estar nos ensinamentos secretos da franco-maçonaria, raramente discutidos em público. Em um recente sínodo da Igreja Anglicana, um relato sobre a franco-maçonaria foi apresentado para debate aos clérigos e leigos reunidos. Diversos oradores denunciaram a maçonaria como contrária aos ensinamentos do cristianismo, condenando os cristãos, especialmente os clérigos, que porventura fossem membros.

Um orador chegou ao ponto de atacar a maçonaria como “blasfema”, pois, segundo ele, o principal ritual de iniciação, que envolve uma representação simbólica da morte e do renascimento, seria uma paródia da crença cristã na crucificação e ressurreição de Jesus de Nazaré.

Desde os seus primórdios, a franco-maçonaria tem sido alvo da ira cristã, embora seja revelado que a Igreja Católica está infiltrada por agentes das sociedades secretas.

Por que deveriam os cristãos ser tão críticos da Maçonaria, além da razão óbvia de que a Igreja se opõe a qualquer sistema de crença alternativo capaz de ameaçar o seu monopólio espiritual? Novamente, a resposta a essa pergunta está nos “segredos” da Maçonaria. Se esses segredos estivessem prontamente disponíveis ao público em geral, é pouco provável que o seu significado fosse compreendido por aqueles não versados nas doutrinas do ocultismo e da antiga religião. Na verdade, é pouco provável que muitos dos membros comuns das lojas compreendam o que os seus segredos representam. No círculo interno da Maçonaria, entre quem alcançou graus de iniciação superiores, existem maçons que compreendem ser os herdeiros de uma tradição antiga e pré-cristã transmitida desde os tempos pagãos. Os maçons medievais herdaram essa tradição secreta na forma de ensinamentos simbólicos que expressam verdades espirituais. Esses ensinamentos tiveram origem nos Mistérios Pagãos, amplamente seguidos no mundo antigo.

Para compreendermos esses ensinamentos secretos e, ao fazê-lo, situarmos em um contexto espiritual o envolvimento das sociedades secretas medievais na política internacional, temos de examinar as presumíveis origens da Maçonaria no período pré-cristão. As informações sobre essas origens estão preservadas nos escritos de historiadores maçons, nas teorias formuladas por ocultistas que têm investigado o simbolismo da Maçonaria e nos relatos acadêmicos das religiões pagãs influenciadoras da tradição ocultista medieval.

Historicamente, sabe-se que a Maçonaria especulativa originou-se das antigas guildas medievais de pedreiros construtores das catedrais góticas europeias. Eles se organizavam em guildas, que funcionavam como grupos de ajuda recíproca semelhantes aos sindicatos modernos. Essas guildas usavam símbolos secretos, as chamadas marcas dos pedreiros, encontradas nas velhas igrejas, bem como senhas e um aperto de mão especial, para que seus membros pudessem se reconhecer mutuamente. Acredita-se, nos círculos ocultistas, que esses pedreiros medievais herdaram o conhecimento esotérico de seus antecedentes pagãos, conhecimento esse incorporado à arquitetura sagrada das catedrais. Ao serem fundadas as lojas da Maçonaria especulativa, que se opõe à operante, nos séculos XVII e XVIII, esse conhecimento foi transformado no simbolismo que constitui, atualmente, a base do ritual maçônico.

As associações medievais de pedreiros podiam envolver até 700 membros, que firmavam contratos com a Igreja para construir catedrais e mosteiros. Acredita-se que uma associação maçônica de pedreiros específica tenha se originado em Colônia, no século XII, a qual valia-se de cerimônias de iniciação ao admitir novos membros, denominados “pedreiros livres”.

Eventualmente, essas lojas maçônicas operantes aceitavam forasteiros, contanto que provassem ser homens de erudição, ou pessoas que ocupassem uma elevada posição social. No final do século XVI, as lojas de maçons operários haviam, em grande parte, desaparecido, sendo substituídas pela Maçonaria especulativa, com a sua ênfase no simbolismo esotérico do Ofício como metáfora do progresso espiritual e da iluminação.

Ainda que os maçons medievais pudessem ser vistos como artesãos práticos, também possuíam um arcabouço mítico para explicar as origens de sua atividade. Os maçons operantes também dividiam todos os conhecimentos existentes em sete artes liberais e ciências. Elas eram classificadas em gramática, ou a arte de falar e escrever corretamente; retórica, a aplicação da gramática; dialética, a distinção entre falso e verdadeiro; aritmética, ou cálculo exato; geometria, o estudo das dimensões da Terra, música e astronomia. De todas essas artes e ciências, os maçons consideravam a geometria a mais importante.

De acordo com suas crenças, a geometria fora ensinada por um patriarca antediluviano chamado Lamec, que tinha três filhos. Um inventou a geometria, o outro foi o primeiro pedreiro, e o terceiro, um ferreiro, e o primeiro ser humano a trabalhar com metais preciosos. Assim como Noé, Lamec foi advertido por Jeová do dilúvio, causado pela perversidade da humanidade e pela interferência dos Anjos Caídos nos assuntos mundanos. Lamec e seus filhos decidiram guardar o seu conhecimento em dois pilares de pedra, de modo que as gerações futuras pudessem descobri-lo.

Um desses pilares foi descoberto por Hermes Trismegisto, ou Três Vezes Maior, conhecido pelos gregos como o deus Hermes e pelos antigos egípcios como o escriba dos deuses, Toth, com cabeça de íbis. Diz-se que a assim chamada Tábua de Esmeralda de Hermes contém a essência da sabedoria perdida de antes dos dias do Dilúvio bíblico. De acordo com fontes ocultistas, essa tábua foi descoberta em uma caverna pelo mítico Mestre Apolônio de Tiana, considerado pela Igreja primitiva um rival de Jesus. A primeira versão publicada da Tábua de Esmeralda data de uma fonte árabe do século VIII a.C., só tendo sido traduzida para o latim na Europa no século XIII.

Contudo, o mito da sabedoria hermética exerceu um profundo efeito sobre os gnósticos, que eram cristãos hereges em conflito direto com a Igreja Cristã primitiva, por tentarem fundir o paganismo com a nova fé. Eles também afirmavam possuir os ensinamentos secretos de Jesus, que este divulgou apenas para o seu círculo interno de discípulos. Esses ensinamentos haviam sido excluídos da versão oficial do Novo Testamento, aprovada pelos concílios da Igreja reunidos para decidir a estrutura e o dogma do cristianismo primitivo. A filosofia gnóstica emergiu sob uma forma diferente na Europa medieval, com o surgimento do movimento cristão herético dos cátaros e da Ordem dos Cavaleiros Templários. A tradição hermética serviu de inspiração espiritual para muitas sociedades secretas na Idade Média, e a sua influência faz-se notar tanto na Maçonaria especulativa como na sociedade Rosa-Cruz.

Segundo a tradição maçônica, os pedreiros [maçons] se organizaram pela primeira vez numa corporação durante a construção da Torre de Babel. De acordo com Gênesis 11:4-6, essa torre fora concebida para se atingir o céu e contactar Deus. O desmoronamento da Torre de Babel destruiu a língua comum falada pela humanidade e encerrou a Idade de Ouro que se seguiu ao Dilúvio. O arquiteto da torre foi o rei Nimrod, da Babilônia, que era pedreiro. Ele pôs à disposição de seu primo, o rei de Nínive, sessenta pedreiros para ajudar na construção de suas cidades. Ao partirem, os pedreiros foram instruídos a se manter sempre leais entre si, a evitar dissensões a qualquer custo, a viver em harmonia e a servir o seu senhor como o seu mestre na Terra.

Segundo a crença popular, os hebreus receberam os seus conhecimentos de alvenaria dos babilônios, introduzindo-os no Egito ao serem escravizados. No Egito, esse conhecimento foi influenciado pelos Mistérios e pelas tradições ocultistas dos construtores de pirâmides, versados nas técnicas da geometria sagrada.

A chave para as origens pagãs da franco-maçonaria está na história simbólica narrada aos candidatos à iniciação nos três graus da maçonaria: Aprendiz Principiante, Companheiro Artesão e Mestre Pedreiro. Segundo o saber maçônico, a base dessa lenda é a história semimítica da construção do templo do rei Salomão, em Jerusalém. A edificação foi vista como repositório da sabedoria e do simbolismo ocultista antigo, tanto pelos maçons como pelos Cavaleiros Templários.

O rei Davi iniciou a construção do templo em Jerusalém e, depois de sua morte, seu filho Salomão completou a obra. Para construir o edifício, Salomão recrutou pedreiros, artistas e artesãos de países vizinhos. Especialmente, enviou uma mensagem ao rei de Tiro, perguntando se podia contratar os serviços de seu mestre construtor, Hiram Abiff, que era versado em geometria. Hiram era filho de uma viúva, tendo aprendido o ofício de artesão trabalhando com bronze. Devido ao seu talento artístico, Salomão nomeou Hiram arquiteto-chefe e mestre-pedreiro do templo a ser construído em Jerusalém.

Hiram concluiu o templo num período de sete anos (esse número tem uma significação especial na tradição ocultista e na maçonaria), mas essa realização foi empanada por sua morte misteriosa e violenta. Certa vez, ao meio-dia, durante o descanso dos pedreiros, Hiram fez uma visita ao templo para verificar o andamento do trabalho, que se aproximava do fim. Ao entrar no pórtico do templo, atravessando a entrada flanqueada pelos dois pilares do portão, um de seus colegas pedreiros aproximou-se de Hiram, solicitando o segredo da senha do Mestre Pedreiro. Hiram negou-se a fornecer essa informação secreta, dizendo ao trabalhador que ele receberia no momento propício, depois de avançar mais em sua carreira. O pedreiro, insatisfeito com a resposta, golpeou Hiram, que seguiu aos tropeções, aturdido e sangrando, até o segundo portão do templo. Ali, foi abordado por um segundo pedreiro, que fez a mesma pergunta e, ao ser-lhe negada a resposta, golpeou Hiram, que cambaleou até a terceira entrada (ocidental) do templo, onde outro pedreiro o aguardava. O processo se repetiu e, dessa vez, o arquiteto-chefe morreu do terceiro golpe.

Os três traidores pedreiros carregaram o corpo de Hiram do templo até o topo de um monte vizinho, onde cavaram uma cova rasa e o enterraram. Marcaram o local do túmulo com um ramo de acácia e, à tarde, como de hábito, retornaram ao trabalho. Quando a falta de Hiram foi notada, uma equipe de busca foi organizada, mas esta levou quinze dias para descobrir o seu corpo. Salomão foi informado e ordenou que o corpo de Hiram fosse exumado e enterrado novamente, com uma cerimônia religiosa completa e as honras devidas a um artesão de sua importância. Os três assassinos acabaram sendo descobertos, julgados e condenados à morte pelo seu crime.


Referências

As Origens das Sociedades Secretas Antigas. Documento PDF fornecido, Parte 1 revisada.

Bíblia Sagrada, Gênesis 11:4-6, referência à Torre de Babel.

Textos sobre Hermes Trismegisto, associados ao mito da Tábua de Esmeralda.

Referências acadêmicas sobre os Cátaros e a Ordem dos Cavaleiros Templários, vinculadas ao movimento cristão herético.

Histórias sobre Hiram Abiff, personagem da tradição maçônica.

Brasil Maçom
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